Crédito Rotativo: Use com Muita Cautela

Aprenda a navegar pelas armadilhas do crédito rotativo e proteja seu futuro financeiro.

O que é crédito rotativo?

O crédito rotativo é uma modalidade de financiamento automático vinculada ao cartão de crédito, acionada quando o titular não paga o valor total da fatura. Em vez de incidir multa ou restrição imediata, o saldo remanescente é transferido para o mês seguinte, configurando um empréstimo curto com juros altos.

Regulamentado pela Resolução nº 2.624/1999 do Banco Central, o rotativo pode ser oferecido por bancos múltiplos, comerciais, de investimento, Caixa Econômica, além de sociedades de crédito e leasing. Durante décadas, essa facilidade foi usada sem limites claros, gerando endividamento acelerado.

Como funciona na prática

Quando o cliente paga apenas o valor mínimo ou parcela parcial da fatura, o saldo restante migra automaticamente para o crédito rotativo, onde incidem juros compostos de alta intensidade. No mês seguinte, o banco deve oferecer uma opção de parcelamento em condições diferenciadas, com taxas menores do que as do rotativo tradicional.

Desde 2017, a Resolução nº 4.549/17 do Banco Central limita o uso do rotativo a 30 dias, obrigando o emissor a oferecer o parcelamento compulsório após esse período. Esse mecanismo busca reduzir o período de incidência dos juros mais elevados do mercado.

Principais números e taxas

Os juros do crédito rotativo já figuraram entre os mais altos do Brasil. Antes da Lei n° 14.690/2023, era comum ultrapassar 300% ao ano e, em alguns bancos, superar 400% ao ano.

Segundo dados do Banco Central (outubro/novembro 2023), a média das taxas anuais variava entre 300% e 431,6%. Com a Lei do Desenrola Brasil, foi estabelecido um teto: encargos totais não podem exceder 100% do valor original da dívida. Por exemplo, uma fatura de R$100 não pode gerar cobrança superior a R$200, independentemente do prazo.

Além disso, o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) é cobrado sobre as parcelas, tornando o custo final ainda mais elevado.

Vantagens do crédito rotativo

• Flexibilidade para emergências: permite postergar parte do pagamento em momentos imprevistos.
• Disponibilidade imediata: não exige nova análise de crédito; basta não quitar integralmente a fatura.
• Facilidade operacional: automaticamente incorporado ao próximo ciclo de cobrança.

Desvantagens e riscos principais

• Juros compostos altos: elevam rapidamente o montante devido, criando efeito bola de neve.
• Indução ao endividamento: pequenas dívidas podem se multiplicar em curto prazo.
• Prejuízos ao score de crédito: uso recorrente e atrasos reduzem a pontuação no Serasa e Boa Vista.
• Bloqueio e negativação: inadimplência pode resultar em CPF negativado e cartões bloqueados.

Mudanças recentes e regulamentação

Em outubro de 2023, a Lei n° 14.690/2023 (Desenrola Brasil) estabeleceu um teto de 100% sobre os encargos totais acumulados. Assim, independentemente de juros e multas, a dívida máxima nunca pode exceder o dobro do valor original.

Adicionalmente, a limitação de 30 dias para uso do crédito rotativo, prevista na Resolução nº 4.549/17, obrigou os emissores a ofertar o parcelamento em condições melhores ao consumidor que permaneça em aberto.

Exemplos e simulações

Como evitar problemas e alternativas ao rotativo

• Priorize sempre o pagamento integral da fatura.
• Compare as opções de parcelamento oferecidas pelo emissor — geralmente com juros menores.
• Considere outras linhas de crédito, como CDC e empréstimos pessoais ou consignados.
• Faça um planejamento financeiro mensal para evitar surpresas e gastos não previstos.

Impacto no score e relacionamento bancário

O uso reiterado do rotativo e a inadimplência sinalizam desorganização financeira ao mercado, reduzindo o score de crédito e restringindo o acesso a novos produtos, como financiamentos imobiliários e veículos.

Além disso, o histórico de atrasos pode fazer com que as instituições ofereçam limites de crédito menores ou taxas ainda mais altas, criando um ciclo negativo difícil de reverter.

Recomendações de especialistas

Especialistas em finanças pessoais alertam que o crédito rotativo deve ser encarado apenas como uma solução emergencial de curto prazo. Ao receber propostas de parcelamento, é fundamental analisar o Custo Efetivo Total (CET) e comparar com alternativas externas.

A educação financeira contínua é uma ferramenta valiosa para evitar armadilhas, permitindo ao consumidor identificar e escolher opções mais saudáveis para sua vida financeira.

Conclusão

O crédito rotativo pode parecer uma saída fácil em momentos de aperto, mas carrega juros elevados e riscos que podem comprometer seriamente sua saúde financeira. Com as mudanças regulatórias recentes, o consumidor conta com mecanismos de proteção, mas a melhor estratégia continua sendo o planejamento e a escolha de opções de crédito menos onerosas.

Use o crédito rotativo com muita cautela, apenas em situações emergenciais e por prazo mínimo. Invista em educação financeira e em um orçamento equilibrado para evitar que pequenas dívidas se transformem em grandes problemas.